Um novo Trabalhismo?

Um novo Trabalhismo?

Por Cristiano Dionísio*

 

“Vargas, a transformação do Brasil” é um documentário dirigido pelo jornalista Beto Almeida. A obra tem por base a trilogia “A Era Vargas” do escritor e jornalista José Augusto Ribeiro. Este documentário tem sido objeto de divulgação pela Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini por meio de diversos eventos em todo país. Um desses eventos deu-se em Curitiba, no último dia 06 de outubro, no auditório da FETRACONSPAR.

 

Após a exibição do filme houve uma roda de conversa com todos os presentes, inclusive com a análise do convidado especial para o evento: o Prof. Dr. Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná. Debateu-se os recortes feitos pelo diretor, bem como a presença de pontos importantes e ausências de outras passagens que poderiam dar ainda mais profundidade ao conteúdo. No limite é importante reconhecer que a “Era Vargas”, dificilmente, caberia em um “único corte”. Como emoldurar em um longa-metragem a trajetória de um estadista que deixou a vida para entrar na História?

 

O PDT tem na sua construção o penhor das vidas de pessoas que se dedicaram à causa pública. De Getúlio Vargas à Leonel Brizola, de Darcy Ribeiro à Abdias do Nascimento, de Miguelina Vechio à Edialeda Salgado, todos e todas compartilharam a visão de que as potencialidades do nosso país são maiores que os nossos problemas e, fundamentalmente, que a emancipação soberana dos processos sociais e econômicos brasileiros podem ser endereçados por meio de adequadas políticas públicas. É neste contexto que emergiu, naquela roda de conversa, algumas questões inquietantes, por exemplo: é necessário construir um novo trabalhismo para os desafios atuais da sociedade brasileira? Ou ainda, como estabelecer um diálogo politicamente vitorioso com a sociedade de hoje?

 

Dito isso, compartilho aqui algumas ideias para promover o que se apresenta como um debate necessário. Conforme bem pontuado pela Professora Gina Paladino, uma visão desenvolvimentista da estrutura econômica nacional se apresenta como um eixo importante das ideias trabalhistas a serem sustentadas pelo PDT. É preciso reconhecer, partindo desta premissa, que a estrutura econômica do país, e seu entorno tecnológico e cultural sofreram uma mudança radical nas últimas décadas.

 

Se é verdade que a pauta econômica está mais diversificada por um lado, é preciso reconhecer que a forma com que se dá a relação entre capital e trabalho mostra-se mais complexa que na primeira metade do século XX; seja pela adoção de novas tecnologias, seja pela transnacionalização dos processos produtivos, ou ainda, pela extrema financeirização da economia. O Trabalhismo PDTista tem como desafio, portanto, articular esta visão desenvolvimentista da estrutura econômica do país diante dessas novas condicionantes. Considerando os avanços que se fazem necessários no campo educacional, “as fronteiras” a serem exploradas no seu mercado interno, a estrutura demográfica que ainda se mostra favorável, e ainda, as vantagens geopolíticas que nossos biomas e biodiversidade permitem, tem-se as premissas em função das quais se pode construir um novo ciclo de desenvolvimento ao país.

 

Os caminhos para isso, evidentemente, não são simples. Há inúmeros interesses que se posicionam de forma a sustentar os que de beneficiam com o trágico cenário atual. Daí a importância estratégica de se enraizar os elementos culturais e imagéticos capazes de articular as forças populares em direção a este novo horizonte. É tarefa do PDT, portanto, comunicar e construir junto aos atores da realidade nacional o conceito e o conteúdo de um programa de unidade nacional que tenha um valor fundamental: a inclusão.

 

O Trabalhismo Democrático PDTista é, sobremaneira, um movimento político de inclusão. Nossa luta histórica, paradoxalmente, é para incluir o povo brasileiro em seu próprio país. Se o conjunto de forças conservadoras construiu um país com estruturas direcionada às elites econômicas, é preciso destacar que a inclusão das massas na agenda política é tão necessária quanto urgente. Não por acaso, portanto, desde a Carta de Lisboa, temas afetos à infância, à educação, à população negra e indígena, às questões de gênero, à equidade econômica, à preservação ambiental e à soberania nacional constituem o nosso ideário político.

 

Se no campo progressista existe um debate quanto a pertinência política, ou não, daquilo que se denomina como pauta identitária, entendo que o PDT pode guiar uma construção política de vanguarda neste campo diante daquilo que foi pontuado até este ponto do texto. Um novo ciclo de desenvolvimento econômico, posicionado de forma soberana, somente será possível se for articulado às potencialidades próprias da nossa realidade nacional, a construção do senso de pertencimento a este projeto histórico, contudo, somente terá adesão das massas se os seus diversos atores se sentirem respeitados em suas individualidades e igualmente protagonistas de suas agendas políticas. O desafio, portanto, é enorme.

 

Vejo, assim, que o PDT tem como missão promover um novo trabalhismo que seja capaz de preservar as importantes lições do passado, honrando às lutas das suas lideranças históricas, ao mesmo tempo em que as utiliza como faróis para um outro horizonte a ser desbravado; no qual a construção de um processo de desenvolvimento soberano das estruturas econômicas e sociais do país, sejam apreendidas como uma manifestação comum das demandas individuais. O partido, dito isso, pode apresentar-se como promotor das políticas públicas necessárias para que as demandas das pautas daqueles que tiveram sua legitimidade, sua visibilidade ou suas legitimidades negadas, sejam interpretadas não como lutas exclusivamente setoriais ou identitárias, mas sim, como dimensões necessárias para emancipação do povo brasileiro.

 

Saudações Trabalhistas.

 

*Cristiano Dionísio é advogado e Professor Universitário. Mestre em Direito Econômico e Social pela PUCPR. É doutorando no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Paraná, junto à linha de pesquisa de Tecnologia, Regulação e Sociedade. É membro da Executiva Estadual do PDT Paraná.

 

 

 

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